O que o público acha II

Que The Soaked Lamb vão voltar a tocar na FNAC Chiado no próximo sábado às 18:00h.
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A música liberta (Musik Macht Frei)



Orfeu, que tocava muito bem, era capaz de, com a sua lira (que por acaso era de Apolo), libertar um morto (Eurídice) das garras de Hades. E Cristo quando disse “Lázaro, vem cá para fora”, muito provavelmente disse-o a cantar. Toda a gente sabe que a voz de Cristo era divina. Herdou-a do Pai. E uma voz divina funciona até com o mais duro de ouvido.

Mais recentemente, houve um caso concreto em que o poder da música destruiu grilhetas e manifestou o seu poder sobre as pedras e os tijolos: Leadbelly. Este bluesman foi preso algumas vezes. E uma dessas vezes foi libertado graças à música. As paredes de pedra e as grades de ferro, nada podem contra os blues. O sr. Leadbelly cantou e tocou um daqueles cheios de alma, com oito ou doze compassos (tanto faz), pedindo perdão ao governador Neff que, cheio de Dó, o libertou. Ou, pelo menos, assim reza a lenda.
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Pequena apresentação

The Soaked Lamb são uns blues feitos em casa, artesanais. O Miguel Lima, que toca bateria, lembrou-se de gravar um CD desses, feitos à mão como as rendas de bilros. Também se lembrou de tocar bateria, tambores e reco-reco, esse instrumento idiófono que funciona graças à fricção dum pauzinho sobre um bocado de bambu (no que concerne ao reco-reco, fomos incapazes de o deter a tempo e parece que aquilo ficou mesmo gravado). O Vasco Condessa ajuntou-se com o ébano e o marfim, preto no branco, e fez-se ouvir um piano. Que às vezes também é um órgão. O Luís Alvoeiro, que é designer nas horas vagas, trouxe o contrabaixo e as respectivas notas que dão o ar grave. A Mariana Lima, irmã de certo baterista já mencionado, canta. E escreve letras muito bonitas em pentâmetros jâmbicos. O Afonso Cruz toca guitarra, harmónica, cavaquinho e banjo. Escreve letras, compõe, descompõe e canta. Às vezes tem barba, outras bigode. O Tiago Albuquerque toca saxofone, clarinete, guitarra e, como se não bastasse, é cunhado dum certo contrabaixista já mencionado. Usa vários tipos de chapéus.
Aos domingos comia-se ensopado de borrego e gravavam-se uns blues ainda com o hálito a cravinho, cominhos e vinho. Facto que evidentemente se nota quando se ouvem as músicas com atenção. Foram consumidos vários litros de cerveja durante as gravações, mas isso não é desculpa para a soberba qualidade do CD (que aliás, ainda não foi distribuído).
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