sábado, 17 de março de 2007

Dois dedos de conversa


Uma das mais notáveis coincidências da anatomia humana é o facto da maior parte das pessoas ter dez dedos nas mãos. É uma soma que me surpreende sempre que penso em Hound Dog Taylor. Ele tinha uma dúzia, como as caixas dos ovos, de dedos nas mãos. Nem mais nem menos: doze. Diz-se que tentou, a certa altura da vida, cortar o excedente, mas todos sabemos que, especialmente para quem faz dieta ou é ministro das Finanças, é muito difícil cortar o excedente.
Na verdade Hound Dog é um anti-Django. Django Reinhardt tinha oito dedos úteis (ainda assim mais do que os dias duma semana, sejam úteis ou não). E com tão poucos dedos, tornou-se muito mais conhecido e afamado do que o Taylor cheio de dedos. Facto a que são alheios a biologia, a anatomia e outros misticismos. Diz quem sabe apreciar música, que Django era um primor enquanto Hound Dog Taylor não primava pela técnica. Até pode ser, mas soava bem. Foi ele mesmo que o disse: "When I die, they’ll say, ‘He couldn’t play shit, but he sure made it sound good!’"

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