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Entrevista Cotonete

Os portugueses The Soaked Lamb preparam-se para lançar o segundo disco de originais no próximo Outono.
A revelação foi feita pelo compositor e multi-instrumentista Afonso Cruz, em entrevista ao Cotonete.
O sucessor de "Homemade Blues", editado em 2007, deverá sair «em Outubro ou Novembro» e «será um disco menos homemade e com um espectro musical mais alargado».
O músico garante que os Soaked Lamb estão a gravar o segundo disco «com a mesma calma» com que gravaram o primeiro. «Nós não temos tempo para ter pressa, fazemos as músicas como eram feitas há 60 ou 70 anos, com o cuidado de quem faz uma melodia para durar e não um ritmo para trepar os tops», explica. E acrescenta: «compomos com uma lentidão que não é nada moderna».
Apesar de reconhecer que «muito do espírito dos Soaked Lamb é inspirado na música americana da primeira metade do século XX», Afonso Cruz sublinha: «evidentemente não somos imunes ao que se passa à nossa volta, à contemporaneidade, mas preferimos tocar sentados».
Segundo o músico, a banda não pensa muito em fronteiras: «as raízes americanas interessam-nos porque, essencialmente, não têm fronteiras». «Cada vez mais, e isso é um traço de modernidade, o mundo é partilhado entre todos: há bandas japonesas a tocar rockabilly e bandas ganesas a tocar bossa nova. Quando palestinianos tocarem klezmer e israelitas música sufi, poderemos ter esperança», diz.
A música dos Soaked Lamb já entrou num anúncio do molho de tomate Guloso e integrou a banda sonora do filme "Arte de Roubar", ao lado de nomes como os Dead Combo e The Legendary Tiger Man. E genericamente, o disco de estreia «tem sido muito bem recebido, as críticas foram sempre bastante boas», no entanto, Afonso acredita que a participação no anúncio publicitário não lhes trouxe «uma notoriedade especial».
Os Soaked Lamb tocam esta sexta-feira no Centro de Artes do Espectáculo de Portalegre e, no sábado, na Galeria do Desassossego, em Beja. Ambos os espectáculos começam às 11 da noite. Afonso Cruz descreveu-nos um concerto típico da banda: «os concertos passam-se sentados, o público e nós. Tocamos a cores, mas soa a preto e branco. Todos usamos chapéu, mas já houve um elemento que tocou, contra todas as regras, de sandálias».
Pode consultar a agenda de concertos no MySpace na banda, onde pode também ver o vídeo do anúncio e de algumas prestações ao vivo.
HG c/ MMB


Uma entrevista muito bem entrevistada, muito bem contextualizada: aqui.
Obrigado à Cotonete, um bálsamo para os ouvidos. Mesmo para os mais duros.
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Espectacular digressão pelo País real

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Estive a tocar, nos dois últimos fins-de-semana, em Coimbra, Leiria, Beja e Portalegre. Gostei muito, essencialmente daquele senhor que dizia para tocarmos aquela. Também havia, em Leiria, uma groupie com a camisa aberta e o peito ao léu. Estou a brincar, era um homem.
A banda deu várias entrevistas, todas muito bem dadas, repletas de bom senso e criteriosa auto-análise. Aliás, se não fosse a banda a responder desse modo tão pertinaz, os músicos que a compõem ter-se-iam limitado a respostas medíocres, como vem sendo hábito. Emocionei-me quando um entrevistador se sentiu comovido com uma letra minha, "A Coffin for Two". Contive as lágrimas, mas deixei que os violinos continuassem a soar. Quando o segundo violino se enganou escandalosamente, tocando um arpejo em Mi diminuto sobre um Ré maior, é que percebi que era tudo produto da minha cabeça. E depois, com os olhos ainda marejados, olhei para o Gito (o contrabaixista) e notei que, também ele, tinha um nó na garganta. Era a gravata.
Em Portalegre, o palco fica muito próximo da casa de banho o que é bom para o pianista, que é o que tem mais urgência de urinol. Eu também costumo ir todas as semanas.
Em Coimbra tocámos num salão de carisma onde o meu pai, quando eu ainda não era nascido (que saudades que eu tenho desses tempos), jogava bilhar: o Salão Brazil. A cerveja, que tem aquela tendência mórbida de se deixar morrer mal se vê fechada dentro dum copo, esteve sempre fresca. A mesa de snooker precisava duma pequena afinação. Enfim, não foi a única coisa desafinada nessa noite. Lembro-me, com algum carinho, dum Si bemol que deixei escapar sem querer. Felizmente não cheira. De resto, toquei sempre evitando citar Merleau-Ponty no banjo, mas não pude conter um ou outro som menos positivista. Assim, convém notar duas coisas: A primeira é que, do nosso lado, pudemos corroborar o facto de não existir separação entre sujeito e objecto, exactamente como enuncia a fenomenologia mais ortodoxa, mesmo quando está sóbria. A segunda é que do lado do público ninguém se despiu, por isso seria pretensão nossa qualquer alusão à união sujeito/objecto (gravemente reprovada pela Igreja).
Em Beja alguém gritou encore mas nós, infelizmente, não temos músicas francesas no repertório.
Fizemos bastantes quilómetros e foi um pouco cansativo. Comprovámos, nestas viagens, que Lisboa fica demasiado longe de Portugal. E que em Leiria há um homem que rapa os pêlos do peito.
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Abril2009
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