Desenhados pela Carla


The Soaked Lamb, no Maxime, por Carla Guedes Pinto.
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Momento Crítico #18

«A matriz musical dos The Soaked Lamb encontra-se entre o blues e o jazz dos anos 30 e 40, respectivamente, ou seja, uma delícia sonora. Banda formada por Mariana Lima (voz), Afonso Cruz (guitarra, ukulele, blues harp, banjo), Gito (duplo baixo), Vasco Condessa (piano, órgão), Tiago Albuquerque (sax alto, guitarra, clarinete) e Miguel Lima (bateria, percussão). Ao vivo, a cores e em tons de blues, a música é tocada num ritmo próprio, peculiar, quente, apaixonante e lento que nos leva de para um cenário de pradaria bem ao estilo musical americano da primeira metade do século XX. O disco de estreia, "Homemade Blues", editado em 2007, foi gravado em casa, aos domingos. Os The Soaked Lamb são uma banda de pormenores, começando pela indumentária apresentada por todos os músicos, sobressaindo a presença muito feminina da vocalista Mariana Lima, em quem recai inevitavelmente as atenções, para além disso a loja Geraldine, ajudou a recriar o ambiente ideal para a prestação, em tons quentes, dos The Soaked Lamb, não esqueçamos, ainda, a carismática presença assídua da ovelha “Luisinha” nos espectáculos da banda. Saliente-se, ainda, alguns momentos curiosos nas músicas dos The Soaked Lamb que nos proporcionam, ora através de um piano ou de um contrabaixo, ora de um acordeão ou de uma bateria, alterações de ritmo interessantes, que surgem como que de imprevisto, fazendo com que os instrumentos ganhem vida própria. A música tocada pelos The Soaked Lamb é para ser apreciada tal qual um filme que se vai revelando aos nossos olhos, sem interrupções ou acessórios que nos retirem a atenção, a música em tons de blues é tocada num ritmo próprio, lento, e que nos deixa facilmente inebriados pela sonoridade do contrabaixo ou de um saxofone, e que nos obriga a pensar que às vezes esquecemo-nos de apreciar os sons desta forma, sem pressas, sem avanços nem recuos, simplesmente ouvir e deixar-nos levar. A banda prepara-se para editar o seu segundo trabalho de longa duração que será um disco menos homemade e com um espectro musical mais alargado.»

(Crítica encontrada no blog Under Review)
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Uma dúzia de dedos


 Uma das mais notáveis coincidências da anatomia humana é o facto da maior parte das pessoas ter dez dedos nas mãos. É uma soma que me surpreende sempre que penso em Hound Dog Taylor. Ele tinha uma dúzia, como as caixas dos ovos, de dedos nas mãos. Diz-se que tentou, a certa altura da vida, cortar o excedente, mas todos sabemos que, especialmente para quem faz dieta ou é ministro das Finanças, é muito difícil cortar o excedente.
 Na verdade Hound Dog é um anti-Django. Django Reinhardt tinha oito dedos úteis. E, com tão poucos dígitos, era um virtuoso, característica que Hound Dog Taylor evitava. Diz quem sabe apreciar música, que Django era um primor enquanto Hound Dog Taylor não primava pela técnica. Até pode ser, mas soava bem. Foi ele mesmo que o disse: "When I die, they’ll say, ‘He couldn’t play shit, but he sure made it sound good!’"
Theodore Roosevelt "Hound Dog" Taylor nasceu em 1915 (há quem diga que foi em 1917) e morreu em 1975. O nome presidencial é apenas mais uma tragédia que pode acontecer na dramática vida de um bluesmen.

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