A nossa primeira capa



Dois discos e duas capas, e conseguimos a proeza de não aparecer em nenhuma delas.
Foi preciso a Marsupial fazer uma entrevista connosco, além de uma crítica mesmo muito lisonjeira ao nosso Hats & Chairs, para deitar por terra esse facto de que tanto nos orgulhávamos, e colocar-nos na capa, e logo sem qualquer aviso prévio. Capas à parte, vale a pena folhear a revista.
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Todos para a Rua de Baixo


THE SOAKED LAMB
A primeira banda de cozinha.

O tempo que sobeja de um Domingo, reclama mais que uma mesa bem composta de um ensopado de borrego, ornamentado com um ramo de hortelã a pedinchar copos de tinto alentejano, numa dança com a gula. Nesse tempo, um grupo de amigos arregaçou as mangas, lavou os talheres rapidamente, e formou os The Soaked Lamb. Uma Home-Band dividida entre os dotes culinários e uma aptidão natural para compôr boas músicas. Falamos com eles sobre culinária, música e dos ingredientes que são indispensáveis para se cozinhar uma boa banda.

‘Hats & Chairs’ é o vosso segundo disco, o primeiro foi gravado totalmente em casa de Afonso Cruz. Como foi o salto do lar para o estúdio para gravar este novo trabalho?

Não tivemos alternativa porque o Afonso vendeu a casa. A verdade é que nós queríamos um som mais profissional do que no anterior registo. Era um passo lógico. Uma evolução necessária. E um grande alívio para a mulher dele. De certa forma, este novo disco ‘Hats & Chairs’ também é homemade, no sentido em que foi todo gravado e produzido por nós, tal como o anterior. Na realidade, só mudaram as paredes, o isolamento das mesmas e as queixas dos vizinhos. Este segundo registo também só tem originais, ao contrário do primeiro em que metade dos temas eram versões. E tem mais instrumentos. Muito mais instrumentos. As gravações tiveram a mesma lentidão que as anteriores, mas sem o ensopado de borrego para o almoço. Perdeu-se na qualidade das refeições, mas ganhou-se em qualidade de som. Outra coisa que mudou, foi que os temas já estavam ensaiados, rodados e testados, e isso faz toda a diferença. No primeiro CD, foi tudo feito antes mesmo de haver banda.

Antes só se juntavam para tocar ao Domingo, por motivos profissionais. Como é agora, já há uma dedicação a tempo inteiro?

A dedicação continua a mesma. Ou seja, só nos juntamos aos Domingos. Em alguns Domingos. Com ou sem ensopado de borrego. Continuamos a exercer as nossas profissões, e a tocar sempre que podemos. Sempre que as profissões o permitem. Metade da banda tem a vantagem de não ter um emprego fixo. São pessoas que têm diversas profissões: escritores, designers, publicitários, realizadores, ilustradores - tudo concentrado em três pessoas - e a música é mais uma dessas coisas. Encaixa-se onde é possível, sempre que possível. Mas existe uma dedicação e um investimento muito grandes, e sempre a custos pessoais. De todos os seis.

Um prato gastronómico bem português, deu o nome à banda. O que vos inspirou para ir buscar influência à música que marcou os anos 20 e 30, em especial, dos Estados Unidos?

O nome veio da ementa dos Domingos, quando gravámos o primeiro CD, misturada com algum sentido de humor e folhas de louro. Não existe qualquer tipo de relação entre esses dois factos, a não ser a tradução para o inglês e o travo a cominhos. Não negamos as nossas raízes, mas o que nos inspira é a música que ouvimos em casa. É disso que gostamos e é isso que nos interessa. Mas gostamos de muitos estilos de música e não estamos de modo nenhum obcecados com a era que mencionam. É verdade que é talvez a maior influência no nosso som, mas não é a única, nem perto disso. Gostávamos até de começar a escrever músicas noutras línguas que não o inglês, desde que continuem a saber a cominhos. E se puderem cheirar um bocadinho a mofo, tanto melhor.

Nos EUA este revivalismo continua bem vivo em bandas como os Squirrel Nut Zippers, mas em Portugal pouco se tem feito por um estilo musical que marcou uma geração. Acham que encontraram um filão cultural por explorar?

O paralelismo deixa-nos lisonjeados. Mas, sinceramente, não acreditamos em qualquer tipo de filão. Fazemos apenas o que gostamos e sem pensar no retorno que possa vir daí. Não escolhemos este tipo de música porque existia algum espaço não explorado. É isto que tocamos porque é isto que gostamos. Se não vivêssemos em Portugal, talvez pudéssemos ambicionar um pouco mais. Claro que gostaríamos que a nossa música fosse apreciada por muitas pessoas. Não vamos é ceder na personalidade que criámos para que isso aconteça. Esta é a música que queremos fazer, independentemente de qualquer contexto. Sentados e de chapéu. E a soar a preto e branco, mesmo tocando a cores.

Como foi trabalhar para a banda sonora do filme “A Arte de Roubar” do Leonel Vieira e como apareceu a vossa música em anúncios comerciais?

Essa é uma ideia muito mais romântica do que a realidade. Gostaríamos muito de o ter feito, e se algum realizador o quiser fazer e nos propuser isso mesmo, teremos todo o prazer em trabalhar e compôr para um filme. Até porque, de certa forma, a nossa música tem algumas características bem cinematográficas. Mas a verdade é que tudo se passou ao contrário. Tal como os restantes intervenientes na banda sonora da Arte de Roubar (Dead Combo, Legendary Tigerman, etc.), fomos convidados a participar com temas já gravados e editados. Ou seja, as músicas já existiam em disco e foram compiladas para o filme porque faziam sentido e ajudavam a completar o todo. Um pouco à semelhança das bandas sonoras dos filmes do Tarantino. Aliás, Leonel, se estás a ler isto, já pensaste em editar a banda sonora do teu filme? Daria uma bela colectânea. Com os anúncios comerciais para a TV aconteceu algo semelhante. Fazemos parte da “pool” duma produtora de som, que propôs a música para os anúncios. Resultou bem e foi aceite por agência e cliente. Nunca escrevemos nada de raíz por encomenda. Mas não estamos fechados a propostas, desde que não esteja em causa a personalidade dos The Soaked Lamb.

Neste disco trabalham com diversos convidados que vêm de variadas áreas musicais como o Funk, o Soul, o Rock e a Pop. O que é que esse cruzamento de experiências e sonoridades trouxe ao disco?

Os convidados trouxeram coisas importantes para o disco, mas não foram ao nível das suas outras áreas de intervenção musical. Todos eles têm coisas em comum connosco - para além de serem nossos amigos - e até algumas afinidades com o nosso som. As músicas em que participam, ganharam uma dimensão que não tinham só com os 6 membros da banda, mas não fugiram do nosso universo ou personalidade musical. A participação deles, além de ser uma grande honra para nós, enriqueceu bastante o disco, mas não existiu um cruzamento de sonoridades. De experiências, claro que sim. E nesse sentido o disco está maior e mais forte do que sem eles. Ou seja, manteve-se o espírito mas tem as cores mais vivas. Eles são a cereja no topo do chapéu.

De futuro esperam visitar outras épocas sonoras ou vão continuar nos ritmos do Jazz, da Valsa e do Swing?

Nada disso é muito consciente ou pensado para ser dessa forma. Não procuramos ser puristas ou revivalistas duma época ou estilo específico, pelo menos nesse sentido da pergunta. Fazemos apenas o que gostamos e isso acaba por nos levar a muitos sítios, a muitos estilos e ritmos diferentes. Mas essencialmente, o que nos interessa é a música do período anterior à década de cinquenta e da massificação da indústria musical. Essa forma de composição um pouco mais complexa dos blues e pensada em função da canção como um todo e não dos executantes. Mas também não recusamos o que se passou depois disso, e pomos na nossa música muita coisa posterior a essa época. Simplesmente temos a atenção mais focada nessa altura. E iremos, com toda a certeza, visitar muitos outros ritmos e estilos. E já no próximo disco, que até já está a ser cozinhado em lume brando.

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Momento Crítico #25

3 estrelas e meia, no Ípsilon de 28 de Maio de 2010:

O "good time" deste "ragtime"
"Os Soaked Lamb afirmam não ter grande interesse na música posterior à década de 50, e não precisavam de o dizer para que o soubéssemos. Os Soaked Lamb, que se vestem como "travelling band" da América pós-Grande Depressão, surgem perante nós como artistas elegantes com espírito de caixeiro-viajante (mala às costas, fatos e vestido de bom corte e chapéu na cabeça). São banda de blues já electrificado e de jazz que ainda não "solificou". Mas não se cristalizam aí.
Há desvios pela inocência da América dos anos 1950, em que os sonhos pareciam paisagem havaiana com banda sonora de guitarra "pedal steel" ("Smilin" moon") ou até à Europa latina, porque, na verdade, fanfarra italiana combina bem com este espírito (confirme-se a recta final do lamento assombrado por violino de "Grain by grain"). De resto, o ataque de guitarra eléctrica a abrir "Blue voodoo" faz questão de acentuar que os Soaked Lamb até podem ser fantasia de um Cotton Club imaginário, mas não são certamente arqueologia. E ainda bem.
"Ditadura de seis elementos" onde se destaca o multifacetado Afonso Cruz, ilustrador, realizador de animação, escritor e, na banda, homem dos mil instrumentos e dono da voz gravíssima que serve de contraponto à elegância de Mariana Lima (saxofonista e vocalista a tempo quase inteiro), os Soaked Lamb de "Hats & Chairs" não fazem recriações. A naturalidade da interpretação, quer nos solos de trompete com surdina, quer no amor sem espaço para lamechices (o filtro que o cobre é o da Hollywood de Rita Hayworth ou Robet Mitchum), quer no gosto evidente pelo revolver da tradição operado por Tom Waits, impede-nos de sentir as canções como exercícios de estilo. Descobrimo-los assim: banda moderna a oferecer-nos novas versões de bailes antigos.
Em disco, é difícil resistir ao "good time" deste "ragtime". Ao vivo, imaginamos, sê-lo-á mais ainda." M.L. in Público
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Um disco de aço

Entrevista gravada para o Sinfonias de Aço:
“É, sem dúvida, um dos grandes discos para este ano: “Hats & Chairs” é o segundo álbum dos The Soaked Lamb e, a propósito deste trabalho, o “Sinfonias de Aço” conversou com o Afonso Cruz, um dos elementos da banda lisboeta. Curiosamente, esta entrevista foi efectuada via telefone, por VOIP, para o coração do Alentejo. O resultado desta conversa “transnacional” está pronto a ser escutado aqui no tasco, na secção entrevistas. Basta ligar as colunas e viajar, de Barcelos ao Alentejo, com passagem pela capital e pelas paisagens que “Hats & Chairs” desenha no seu percurso entre os blues e o jazz. De resto, liguem as colunas e deixem o PC fazer o que falta...”
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Uma entrevista em tom de sussurro


Whisper - Para quem não vos conhece, quem são os The Soaked Lamb? Contem-nos um pouco da vossa história.
The Soaked Lamb- A nossa história começa há 70 ou 80 anos atrás, ainda antes da II Guerra Mundial. Primeiro foi uma ideia, que depois levou à gravação de um disco todo feito em casa, acompanhado dos almoços de Domingo feitos de ensopado de borrego, vinho tinto e blues. Ficou pronto muito tempo depois - por volta de 2007. Só depois do álbum acabado é que surgiu a banda propriamente dita, que foi petiscar o nome a esses almoços. Muitos concertos depois, começou a tomar forma o segundo disco, aquele que editamos agora - “Hats & Chairs” - quase tão antigo como o outro, embora já tenha alguns toques de modernidade. Afinal, foi editado em 2010 e tem a maturidade de uns longos 3 anos.

W- A banda está fortemente relacionada com o blues e jazz, estilos musicais pouco populares em Portugal. Como lidam com isso?
TSL - A popularidade não quer nada connosco. E nós com ela. Não é algo de que estejamos à procura ou que nos consiga achar assim tão facilmente. Não compomos música para ir de encontro a gostos, a não ser o nosso próprio. De qualquer forma, fazemos as coisas tão devagar, mas tão devagar, que mesmo que quiséssemos acompanhar alguma moda, quando tivéssemos algo pronto para apresentar, essa moda já tinha passado. E para nós passou mesmo há muito tempo. Claro que não recusaremos qualquer tipo de protagonismo, se um dia nos bater à porta. Até esse dia chegar, esperaremos sentados, de chapéu, confortavelmente longe de resultados de vendas e tops da moda.

W - Como surgiram os vossos álbuns? É um processo demoroso?
TSL - É mesmo muito lento. Sentimos que demoram décadas a construir. 7 ou 8 décadas, para sermos mais precisos. Felizmente, temos muito tempo para ter o vagar necessário que eles nos exigem. Em ambos os discos, concentrámos as gravações aos Domingos. E vários passaram até estarmos satisfeitos, até chegarmos onde queríamos. No caso do primeiro álbum, como já dissemos, surgiu duma ideia de fazer um disco, antes mesmo de existir a banda. O segundo já apareceu como mandam as regras. É fruto de ensaios, concertos, e da nossa convivência enquanto banda. Foi inteiramente gravado em estúdio, apesar de também ser “homemade” no sentido em que foi todo feito por nós. É composto só de originais, ao contrário do primeiro, em que metade dos temas eram versões. E tem mais instrumentos. Muito mais instrumentos. As gravações tiveram a mesma lentidão que as anteriores, mas sem o ensopado de borrego para o almoço. Perdeu-se na qualidade das refeições, mas ganhou-se em qualidade de som.

W - "Homemade Blues" é o nome do vosso primeiro álbum de onde grande parte dos portugueses lembram o tema "Doomed to Heaven" do anúncio televisivo para a marca Guloso. Como surgiu esta oportunidade capaz de deixar a vossa música nos ouvidos de toda a gente?
TSL - Não sabemos se deixou a música nos ouvidos de toda a gente, mas deixou com certeza um ligeiro hálito a refogado. Neste caso concreto, o ladrão fez a oportunidade. O Miguel, baterista, trabalha num estúdio de produção áudio, e propôs, entre outras músicas de diversos autores, o nosso “Doomed to Heaven Rag” como banda sonora para esse filme em concreto. Esse foi o tema escolhido, para nossa sorte, da agência de publicidade e da marca de concentrado de tomate.

W - O vosso mais recente trabalho intitulado “Hats & Chairs” contou com uma série de convidados. Falem-nos um pouco sobre eles e como surgiram nesse projecto.
TSL - Os convidados aparecem em alguns temas do disco. São amigos que admiramos também como músicos, e que conseguimos enganar sem eles darem por isso. Enfiámos-lhes um chapéu. As músicas em que participam, ganharam uma dimensão que não tinham só com os 6 membros da banda. Os temas não seriam muito diferentes sem eles, é certo. Mas seriam com certeza mais pobres. São eles: Nuno Reis (Funk Off And Fly; Mercado Negro; Cool Hipnoise), Pedro Gonçalves e Tó Trips (Dead Combo), Jorge Fortunato (49 Special). O disco foi ainda misturado e masterizado por Branko Neskov.

W- O que são os “chapéus e as cadeiras” no vosso último trabalho?
TSL - Os chapéus são 6: Mariana Lima, voz e saxofone; Afonso Cruz, voz, guitarras, harmónicas, banjo e lap steel; Gito Lima, contrabaixo; Tiago Albuquerque, ukulele, trompete, clarinete, saxofone, concertina; Vasco Condessa, piano; Miguel Lima, bateria. As cadeiras são menos numerosas, mas não menos importantes. Fazem parte da nossa postura em palco, em que todos tocam sentados, e do nosso cuidado com os detalhes e com as vértebras do pianista. Costumamos dizer que fazemos música sentados, e para um público também sentado. O chapéu é opcional apenas para o público.

W - Tivemos a oportunidade de vos ver actuar em Coimbra e vimos que se depararam com condições algo precárias para uma actuação. É algo que vos acontece com frequência? Sentem-se obrigados a aceitar para darem a conhecer a vossa música?
TSL - Durante esta tour, tocámos em locais com som fantástico, como o C.C.Vila Flor, e com um som medíocre, como o que mencionam. Quando queremos promover o nosso trabalho (neste caso o novo CD), temos - e queremos - chegar ao máximo de cidades e pessoas que nos for possível. Isso implica tocar em locais em que as condições não são as melhores. Não nos sujeitamos a qualquer coisa, claro. Mas, infelizmente, é a realidade de muitas das salas do País, e não há muitas formas de contornar essas deficiências. Mas esta tour, até por ter sido bem maior do que o que já tínhamos feito, fez-nos subir um pouco a exigência. E dificilmente voltaremos a tocar em locais como esse de Coimbra.

W - Onde se vêm daqui a 5 anos? Grandes expectativas?
TSL - As expectativas têm o tamanho das vendas dos nossos discos e dos nossos espectáculos. Não são muito grandes, nem demasiado pequenas. Estão sentadas como nós. A nossa música, apesar de ser feita com a maior seriedade, veracidade e dedicação possíveis, não é a nossa profissão nem o nosso ganha-pão. É o nosso passatempo preferido, aquele em gastamos mais tempo. Se tivermos a oportunidade de crescer, vamos agarrá-la, desde que não seja preciso correr. Já não temos idade para isso. Daqui a 5 anos não fazemos ideia de onde estaremos, mas certamente continuaremos sentados e de chapéu.

W - Alguma mensagem que queiram aproveitar para deixar aos nossos leitores, aos vossos seguidores, ou às promotoras nacionais, etc?
TSL - Uma mensagem muito pouco subliminar: Ouçam o nosso CD. Vão ver os nosso concertos e levem chapéus. As cadeiras já lá deverão estar. E procurem-nos na net, nos canais sociais habituais: Facebook, Myspace, Blogs, Youtube. etc. e ainda em www.soakedlamb.com
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Hot & Spicy


in jornal Expresso de 08/05/2010: COMO (não) é imediatamente evidente, The Soaked Lamb é o tipo de tradução que, naturalmente, resultará se escrevermos “ensopado de borrego” num qualquer Babel Fish desta vida. O que será logo um indício de que os autores de “Hats & Chairs” têm uma elevado probabilidade de ser portugueses. São. Mais exactamente, segundo os próprios, “uma ditadura de seis pessoas” executantes de sax, guitarra, ukulele, banjo, lap steel, contrabaixo, piano, órgão, clarinete, trompete, concertina, bateria e percussões, de acordo com um programa estético convivial: “os blues como anfitrião e muitos convidados, como o swing, o ragtime, o jazz, e até uma valsa que ficou para o café.” Na verdade, estão para esta descendência da old-time music como os Oquestrada para as variedades lusas: se estes apuraram o paladar entre refogados e jindungo, os Soaked Lamb preferem a jambalaya, o chicken fried steak e a pecan pie. Metafórica e musicalmente, claro. Nos temperos, entram Tom Waits, Nina Simone, Screamin’ Jay Hawkins, Chavela Vargas e Colette Magny, entre muitos outros, que eles gostam de pitéus hot & spicy. Ainda bem que não é nouvelle cuisine. J.L.
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Quando nós falamos dos outros


Na última revista DIF (nº74), um de nós fala do disco duma outra banda que anda a ouvir e a gostar muito: A Jigsaw, Like The Wolf - Uncut.


“Like the Wolf” é o segundo álbum dos portugueses A Jigsaw, e esta edição “uncut”, é uma espécie de versão do realizador, revista e aumentada, e em formato “deluxe” do disco com o mesmo nome de 2009. Poderia ter sido o difícil segundo disco. Mas eles nem sabem como isso se escreve. O que souberam foi escrever 14 belas canções, que compõem este registo brilhante, obra maior que “Letters From The Boatman” de 2007 - já por si um disco magnífico (têm ainda um EP “From the Underskin” de 2004) - em que o todo é mais do que a soma das partes. Conceptual na forma, consistente e coerente do primeiro ao último momento. Indie folk e americana no seu melhor, onde se evocam almas perdidas numa qualquer estrada secundária, cheia de pó, sangue e whiskey, e histórias contadas na terceira pessoa. Conhecem o cancioneiro tradicional americano do índice ao prólogo, e têm o desplante de lhe acrescentar mais um capítulo revisto e actualizado, com composições de grande nível, autênticas e originais. É um álbum que não consigo tirar do leitor de CD’s. Siga com atenção esta alcateia."
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Uma revista onde somos "um autêntico must"


Na página 76 da Magazine Magnética, deste mês de Maio, recebemos uma crítica tão elogiosa que parece que foi feita por encomenda. Juramos, sentados e a pés juntos, que desconhecemos a jornalista (Sofia Freire) que escreveu sobre nós e sobre o novo CD "Hats & Chairs".
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Viajar no tempo para a Terra Pura

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The Soaked Lamb: Blues domingueiro

Entrevista para O Lado P: Em 2006 os Soaked Lamb fintaram a ordem natural das coisas. Gravaram “Homemade Blues” na socapa dos domingos e só depois se assumiram enquanto banda para partirem para a estrada. Agora “Hats & Chairs” chega às lojas com toda a lentidão do mundo. Porque a pressa é inimiga da perfeição e porque a música (a deles) só poderia ser feita assim. Devagar. Como quem não quer a coisa.

O disco de estreia “Homemade Blues” situou os Soaked Lamb algures entre a sonoridade da cultura norte americana dos anos 30. Como lidaram com essa colagem imediata ao imaginário dos blues do início do século XX?

Os Soaked Lamb revêem-se nos blues mais rurais e primitivos sem no entanto ser um processo muito planeado. Os Soaked Lamb surgiram um pouco ao contrário do que é normal. Gravámos o disco e só depois nos assumimos como banda. Todo o som que foi criado não foi muito pensado. Assim, a banda resulta numa reunião de gostos pessoais e da música que os seus elementos ouvem em casa.

O jazz e os blues dessa altura nunca foram muito explorados por bandas portuguesas. Quiseram aproveitar essa lacuna de modo a exprimirem os vossos gostos pessoais?

Não quisemos explorar nenhum filão. A nossa intenção é fazer o que gostamos. Muitas pessoas tentam descobrir algo que venda e não temos nada contra. Adorávamos que as pessoas gostassem do que nós fazemos e em vez de vendermos 500 discos vendêssemos 5 mil. Mas não fazemos nada para atingir essa meta nem tentámos encontrar um cantinho da música que não tivesse sido explorada.

Os Soaked Lamb dizem fazer as músicas como eram feitas “há 70, 80 anos atrás com o cuidado de quem faz uma melodia para durar e não um ritmo para trepar topes”. Apesar das boas críticas, o sucesso comercial é mesmo secundário?

É completamente secundário! Nós não somos músicos profissionais. Fazemos música porque gostamos e temos as nossas profissões que nos pagam a renda da casa. Se fosse possível tornarmo-nos músicos profissionais, teríamos essa preocupação. Neste contexto fazemos o que queremos sem nenhuma pressão nem preocupação comercial.

“Hats & Chairs” é um disco menos artesanal. O que mudou em relação ao primeiro disco?

O “Homemade Blues” nasceu de uma ideia sem haver uma banda. “Hats & Chairs” é um disco que já tem uma banda ensaiada e com mais experiência que tinha tocado ao vivo um pouco por todo o país. Por isso este disco foi pensado ao longo desse tempo enquanto banda e o outro não. Uma outra diferença que acaba por ter uma grande influência no resultado final foi o facto de “Homemade Blues” ter sido gravado em casa e “Hats & Chairs” ter sido gravado em estúdio. Apesar disso, à semelhança do primeiro disco, este também durou cerca de um ano a gravar.

Os vossos processos de gravação são algo longos. Os Soaked Lamb são demasiado perfeccionistas ou trata-se apenas do vosso ritmo natural de trabalho?

Não somos nada perfeccionistas! Mas existe sempre algum cuidado e atenção em determinados detalhes relacionados com alguns instrumentos ou até com a imagem da própria banda. A duração do processo de gravação tem a ver com o facto de a música não ser a nossa profissão. É verdade que podíamos ter tirado férias e fecharmo-nos num estúdio para gravar o disco de uma ponta à outra. Não o fizemos e por isso a nossa obra continua a ser um pouco caseira nesse sentido.

Ainda assim houve oportunidade para “recrutar” o Branko Neskov para a mistura e masterização do disco...

O Branko Neskov é uma pessoa muito experiente na sonorização de longas metragens. O Miguel Lima [baterista] já tinha trabalhado com ele há algum tempo. Durante as gravações de “Hats & Chairs” ele propôs-lhe fazer a mistura do disco. Deu-lhe uma música e o Branko ficou muito entusiasmado e partiu para o disco com toda a vontade, apesar de ter havido alguma relutância inicial.

Os Soaked Lamb sentem-se de alguma forma atraídos pelo espectro cinematográfico? Como surgiu a oportunidade de integrarem o filme “A Arte de Roubar” de Leonel Vieira?

Foi novamente através do Miguel Lima. Ele foi o responsável pela sonorização e montagem do som do filme. Durante o processo ele sugeriu ao Leonel algumas bandas que tivessem um som que jogasse bem com o espírito do filme. Entre as sugestões estavam os Soaked Lamb. Só na altura de sonorizar o filme é que ele conheceu realmente o disco e gostou muito da forma como os temas entraram no filme. Não foi aquela ideia romântica do convite do realizador mas o resultado final funcionou muito bem.

www.soakedlamb.com

Hugo Amaral / o lado p

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Momento Crítico #24

Onde se diz que Hats & Chairs é uma pequena obra-prima:

E se o Tom Waits, a Crystal Gayle, a Margo Timmings (cowboy junkies) fundida com a Marisa Monte e ainda o Johnny Cash e a June Carter tivessem sido convocados para um ensopado de borrego algures na planície alentejana? Na verdade apenas o foram por interpostas pessoas - Mariana, Afonso, Gito, Tiago, Vasco e Miguel - e provavelmente apenas na minha abusiva interpretação depois de ouvir o disco ao 'som' de uns quantos Hendricks.

E não é um bocado forçado publicar aqui um post sobre o lançamento de um novo disco só porque a banda se chama Soaked Lamb (ensopado de borrego)? Não, pelo simples facto do disco “Hats&Chairs”, lançado hoje, ser uma pequena obra prima. Mas se preciso for tambem poderei atestar que o Afonso Cruz cozinha tão bem quanto, escreve, ilustra, canta ou toca.


(Miguel Pires, Mesa Marcada)
Obrigado, Miguel
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Uma recomendação do Diário Câmara Clara (obrigado, Luís Caetano).
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Momento Crítico #23

«Tradicionalistas mas não necessariamente conservadores, os Soaked Lamb não estão imunes ao presente mas não é no «agora» que lêem o manual de sobrevivência. Podem até não encontrar vazão para escoar um talento que é, aparentemente, genuíno mas por um disco materializaram uma série de imagens que certamente habitavam sonhos profundos.»

Davide Pinheiro, Disco Digital.
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Música sedutora, portanto

A ler em Vai Uma Gasosa?
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Somos muito parecidos com os nossos avós

Entrevista para o jornal Destak:

Falem-me um pouco do vosso percurso de 2006 até agora.

Começámos ao contrário do que seria suposto. Primeiro nasceu um disco e este é que deu origem à banda. Chamou-se “Homemade Blues” ao disco, por ter sido gravado em casa, calmamente e aos Domingos, ao longo de um ano, e “The Soaked Lamb” à banda, como homenagem aos almoços de ensopado de borrego que se faziam nesses dias de gravações. Depois desse disco editado, foi necessário tocá-lo ao vivo. Foi assim que os primeiros ensaios surgiram, bem como os concertos um pouco por todo o País. Este segundo registo “Hats & Chairs”, que editamos agora, é fruto desses ensaios, desses concertos, e da convivência enquanto banda. Foi gravado em estúdio, apesar de também ser “homemade” no sentido em que foi todo feito por nós. É composto só de originais, ao contrário do primeiro, em que metade dos temas eram versões. E tem mais instrumentos. Muito mais instrumentos. As gravações tiveram a mesma lentidão que as anteriores, mas sem o ensopado de borrego para o almoço. Perdeu-se na qualidade das refeições, mas ganhou-se em qualidade de som.

O vosso som parece mesmo enraizado em referências antigas, podem referir algumas?

As raízes são realmente antigas, e vão tão fundo quanto as décadas de 20 e 30 do século passado. Mas alguns ramos mais afoitos, e até algumas folhas, são quase verdes. A música que nos interessa mais, a que ouvimos em casa, é aquela feita no período anterior à década de cinquenta e da massificação da indústria musical. Em que a forma de composição dos blues é um pouco mais complexa, pensada em função da canção como um todo e não dos executantes ou solistas. Mas também não recusamos o que se passou depois disso, e pomos na nossa música muita coisa posterior a essa época. As nossas influências são muitas, variadas, e algumas ainda nem sequer ganharam muito pó.

Há também algo de Tom Waits e Nick Cave na forma do Afonso cantar, não é?

Julgamos que os dois só tocam sentados, quando estão ao piano. E quase nunca os vemos de chapéu. Também desconhecemos se algum dos dois se importa com a comparação. A nós, não nos incomoda nada. Gostamos muito do Tom Waits e, nesse sentido, vemos o paralelismo como um grande elogio. A verdade é que o Afonso não tenta imitar ninguém. A forma como canta é apenas o registo em que se sente mais confortável. E ele nem sequer é a voz principal da banda. Essa é feminina e é da Mariana Lima. Ele só canta em 2 temas do novo disco, num total de 13.

Há uma arte em fazer musica moderna a soar a antiga?

A música foi gravada com material novo, e com as melhores condições de captação a que tivemos acesso. Nesse sentido, não somos nada revivalistas ou puristas. Não queremos gravar as nossas músicas como eram gravadas há setenta ou oitenta anos. A melhor qualidade de som disponível é a que nos interessa. E essa é mesmo a parte mais moderna na nossa música. Se falarmos na parte da composição, aí já existe uma preocupação grande em fazer uma melodia que perdure no tempo e não uma canção para vender e chegar aos tops. E nesse aspecto, não somos mesmo nada modernos, e somos muito mais parecidos com os nossos avós.

Qual o papel dos chapéus nos Soaked Lamb?

Têm um papel fundamental, não deixando fugir as ideias nem os cabelos. Mas são tão importantes quanto as cadeiras. Nós gostamos de detalhes e damos muita atenção a todos os pormenores. Na música, no grafismo dos discos e cartazes, nas roupas que usamos em palco. Os chapéus e as cadeiras fazem parte dessa preocupação estética, que começa na composição da música e não acaba mais.

São todos multi-instrumentistas, ao vivo trocam de instrumentos?

Os multi-instrumentistas são apenas dois. O Afonso e o Tiago. Entre os dois, tocam mais de 10 instrumentos (Guitarra, Banjo, Ukulele, Harmónica, Trompete, Saxofone, Clarinete, Lap Steel Guitar, Concertina, etc.). Mas não os trocam. Pelo menos ao vivo. Apesar de uma vez já terem trocado de chapéu.

Falem-me das colaborações e de como surgiram?

Os convidados aparecem em alguns temas do disco. São amigos que admiramos também como músicos, e que conseguimos enganar sem eles darem por isso. Enfiámos-lhes um chapéu. As músicas em que participam, ganharam uma dimensão que não tinham só com os 6 membros da banda. Os temas não seriam muito diferentes sem eles, é certo. Mas seriam com certeza mais pobres. São eles: Nuno Reis (Funk Off And Fly; Mercado Negro; Cool Hipnoise), Pedro Gonçalves e Tó Trips (Dead Combo), Jorge Fortunato (49 Special). O disco foi ainda misturado e masterizado por Branko Neskov.

Com o disco lançado, a digressão que o suporta será extensa? Que datas têm marcadas?

A digressão irá de norte a sul do País. Teve inicio no dia 31 de Março e já fizemos 4 concertos. Serão 17 concertos no total. Os eventos mais importantes serão: Coimbra (Salão Brasil) no dia 10; Porto (Armazém do Chá) no dia 16; Guimarães (C.C.Vila Flor) no dia 17; Loulé (Bafo de Baco) no dia 24; e para terminar, vamos tocar no Musicbox, em Lisboa, no dia 30 de Abril. Estamos a organizar uma pequena digressão pela Europa, mas será mais para o Verão.
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Boa Nova

Entrevista para o programa "Cá se fazem ca se tocam", de Pedro Oliveira (rádio Boa Nova).

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A Trompa

Uma entrevista "depois do surpreendente Homemade Blues". A ler aqui.
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Momento Crítico #22

"Glamour e elegancia no enquadramento de um belo disco.
Cheira a animação primaveril!" - *****

(Fenther)
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Momento Crítico #21

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Momento Crítico #20

"Blues , Swing, Jazz e até um cheirinho a valsa fazem do segundo disco dos portugueses The Soaked Lamb um dos álbuns do ano. o tema "Blue Voodoo" explica quase tudo." in Correio da Manhã de 3 de Abril de 2010.
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Momento Crítico #19

Hoje, no Jornal de Negócios, Manuel Falcão deu a sua opinião sobre o nosso novo disco:
"OUVIR
- É uma delícia ouvir um disco feito por bons músicos pelo prazer de tocar boa música - a descrição aplica-se que nem uma luva a Hats And Chairs, dos Soaked Lamb, uma banda portuguesa que revisita os sons do vaudeville norte-americano, com referências claras ao blues e a New Orleans. Destaque para Mariana Lima, a vocalista e saxofonista que contribui para que este seja um dos discos portugueses dos últimos tempos que mais gozo me deu."
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Esta é a capa do CD Hats & Chairs:

E estas são interpretações de vários ilustradores:

André Letria



Alex Gozblau



Afonso Cruz



Carla Cabral



Carlos Guerreiro



Fernando Martins



Gito



Jorge Margarido



Luís Alvoeiro



Mariana Lima Balas



Osvaldo Medina



Pedro Vieira




Rui Vitorino Santos



Tiago Albuquerque
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Hats & Chairs

caixa
caixas2

Caixas e mais caixas. O novo CD, Hats & Chairs, já está pronto. No final de Março estará nas lojas, sentado, de chapéu e, se tudo correr bem, confortavelmente longe dos tops.
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Primeiro disco à venda na Amazon

E com uma crítica cinco estrelas.
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