Viajar no tempo para a Terra Pura

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The Soaked Lamb: Blues domingueiro

Entrevista para O Lado P: Em 2006 os Soaked Lamb fintaram a ordem natural das coisas. Gravaram “Homemade Blues” na socapa dos domingos e só depois se assumiram enquanto banda para partirem para a estrada. Agora “Hats & Chairs” chega às lojas com toda a lentidão do mundo. Porque a pressa é inimiga da perfeição e porque a música (a deles) só poderia ser feita assim. Devagar. Como quem não quer a coisa.

O disco de estreia “Homemade Blues” situou os Soaked Lamb algures entre a sonoridade da cultura norte americana dos anos 30. Como lidaram com essa colagem imediata ao imaginário dos blues do início do século XX?

Os Soaked Lamb revêem-se nos blues mais rurais e primitivos sem no entanto ser um processo muito planeado. Os Soaked Lamb surgiram um pouco ao contrário do que é normal. Gravámos o disco e só depois nos assumimos como banda. Todo o som que foi criado não foi muito pensado. Assim, a banda resulta numa reunião de gostos pessoais e da música que os seus elementos ouvem em casa.

O jazz e os blues dessa altura nunca foram muito explorados por bandas portuguesas. Quiseram aproveitar essa lacuna de modo a exprimirem os vossos gostos pessoais?

Não quisemos explorar nenhum filão. A nossa intenção é fazer o que gostamos. Muitas pessoas tentam descobrir algo que venda e não temos nada contra. Adorávamos que as pessoas gostassem do que nós fazemos e em vez de vendermos 500 discos vendêssemos 5 mil. Mas não fazemos nada para atingir essa meta nem tentámos encontrar um cantinho da música que não tivesse sido explorada.

Os Soaked Lamb dizem fazer as músicas como eram feitas “há 70, 80 anos atrás com o cuidado de quem faz uma melodia para durar e não um ritmo para trepar topes”. Apesar das boas críticas, o sucesso comercial é mesmo secundário?

É completamente secundário! Nós não somos músicos profissionais. Fazemos música porque gostamos e temos as nossas profissões que nos pagam a renda da casa. Se fosse possível tornarmo-nos músicos profissionais, teríamos essa preocupação. Neste contexto fazemos o que queremos sem nenhuma pressão nem preocupação comercial.

“Hats & Chairs” é um disco menos artesanal. O que mudou em relação ao primeiro disco?

O “Homemade Blues” nasceu de uma ideia sem haver uma banda. “Hats & Chairs” é um disco que já tem uma banda ensaiada e com mais experiência que tinha tocado ao vivo um pouco por todo o país. Por isso este disco foi pensado ao longo desse tempo enquanto banda e o outro não. Uma outra diferença que acaba por ter uma grande influência no resultado final foi o facto de “Homemade Blues” ter sido gravado em casa e “Hats & Chairs” ter sido gravado em estúdio. Apesar disso, à semelhança do primeiro disco, este também durou cerca de um ano a gravar.

Os vossos processos de gravação são algo longos. Os Soaked Lamb são demasiado perfeccionistas ou trata-se apenas do vosso ritmo natural de trabalho?

Não somos nada perfeccionistas! Mas existe sempre algum cuidado e atenção em determinados detalhes relacionados com alguns instrumentos ou até com a imagem da própria banda. A duração do processo de gravação tem a ver com o facto de a música não ser a nossa profissão. É verdade que podíamos ter tirado férias e fecharmo-nos num estúdio para gravar o disco de uma ponta à outra. Não o fizemos e por isso a nossa obra continua a ser um pouco caseira nesse sentido.

Ainda assim houve oportunidade para “recrutar” o Branko Neskov para a mistura e masterização do disco...

O Branko Neskov é uma pessoa muito experiente na sonorização de longas metragens. O Miguel Lima [baterista] já tinha trabalhado com ele há algum tempo. Durante as gravações de “Hats & Chairs” ele propôs-lhe fazer a mistura do disco. Deu-lhe uma música e o Branko ficou muito entusiasmado e partiu para o disco com toda a vontade, apesar de ter havido alguma relutância inicial.

Os Soaked Lamb sentem-se de alguma forma atraídos pelo espectro cinematográfico? Como surgiu a oportunidade de integrarem o filme “A Arte de Roubar” de Leonel Vieira?

Foi novamente através do Miguel Lima. Ele foi o responsável pela sonorização e montagem do som do filme. Durante o processo ele sugeriu ao Leonel algumas bandas que tivessem um som que jogasse bem com o espírito do filme. Entre as sugestões estavam os Soaked Lamb. Só na altura de sonorizar o filme é que ele conheceu realmente o disco e gostou muito da forma como os temas entraram no filme. Não foi aquela ideia romântica do convite do realizador mas o resultado final funcionou muito bem.

www.soakedlamb.com

Hugo Amaral / o lado p

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Momento Crítico #24

Onde se diz que Hats & Chairs é uma pequena obra-prima:

E se o Tom Waits, a Crystal Gayle, a Margo Timmings (cowboy junkies) fundida com a Marisa Monte e ainda o Johnny Cash e a June Carter tivessem sido convocados para um ensopado de borrego algures na planície alentejana? Na verdade apenas o foram por interpostas pessoas - Mariana, Afonso, Gito, Tiago, Vasco e Miguel - e provavelmente apenas na minha abusiva interpretação depois de ouvir o disco ao 'som' de uns quantos Hendricks.

E não é um bocado forçado publicar aqui um post sobre o lançamento de um novo disco só porque a banda se chama Soaked Lamb (ensopado de borrego)? Não, pelo simples facto do disco “Hats&Chairs”, lançado hoje, ser uma pequena obra prima. Mas se preciso for tambem poderei atestar que o Afonso Cruz cozinha tão bem quanto, escreve, ilustra, canta ou toca.


(Miguel Pires, Mesa Marcada)
Obrigado, Miguel
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Uma recomendação do Diário Câmara Clara (obrigado, Luís Caetano).
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Momento Crítico #23

«Tradicionalistas mas não necessariamente conservadores, os Soaked Lamb não estão imunes ao presente mas não é no «agora» que lêem o manual de sobrevivência. Podem até não encontrar vazão para escoar um talento que é, aparentemente, genuíno mas por um disco materializaram uma série de imagens que certamente habitavam sonhos profundos.»

Davide Pinheiro, Disco Digital.
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Música sedutora, portanto

A ler em Vai Uma Gasosa?
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Somos muito parecidos com os nossos avós

Entrevista para o jornal Destak:

Falem-me um pouco do vosso percurso de 2006 até agora.

Começámos ao contrário do que seria suposto. Primeiro nasceu um disco e este é que deu origem à banda. Chamou-se “Homemade Blues” ao disco, por ter sido gravado em casa, calmamente e aos Domingos, ao longo de um ano, e “The Soaked Lamb” à banda, como homenagem aos almoços de ensopado de borrego que se faziam nesses dias de gravações. Depois desse disco editado, foi necessário tocá-lo ao vivo. Foi assim que os primeiros ensaios surgiram, bem como os concertos um pouco por todo o País. Este segundo registo “Hats & Chairs”, que editamos agora, é fruto desses ensaios, desses concertos, e da convivência enquanto banda. Foi gravado em estúdio, apesar de também ser “homemade” no sentido em que foi todo feito por nós. É composto só de originais, ao contrário do primeiro, em que metade dos temas eram versões. E tem mais instrumentos. Muito mais instrumentos. As gravações tiveram a mesma lentidão que as anteriores, mas sem o ensopado de borrego para o almoço. Perdeu-se na qualidade das refeições, mas ganhou-se em qualidade de som.

O vosso som parece mesmo enraizado em referências antigas, podem referir algumas?

As raízes são realmente antigas, e vão tão fundo quanto as décadas de 20 e 30 do século passado. Mas alguns ramos mais afoitos, e até algumas folhas, são quase verdes. A música que nos interessa mais, a que ouvimos em casa, é aquela feita no período anterior à década de cinquenta e da massificação da indústria musical. Em que a forma de composição dos blues é um pouco mais complexa, pensada em função da canção como um todo e não dos executantes ou solistas. Mas também não recusamos o que se passou depois disso, e pomos na nossa música muita coisa posterior a essa época. As nossas influências são muitas, variadas, e algumas ainda nem sequer ganharam muito pó.

Há também algo de Tom Waits e Nick Cave na forma do Afonso cantar, não é?

Julgamos que os dois só tocam sentados, quando estão ao piano. E quase nunca os vemos de chapéu. Também desconhecemos se algum dos dois se importa com a comparação. A nós, não nos incomoda nada. Gostamos muito do Tom Waits e, nesse sentido, vemos o paralelismo como um grande elogio. A verdade é que o Afonso não tenta imitar ninguém. A forma como canta é apenas o registo em que se sente mais confortável. E ele nem sequer é a voz principal da banda. Essa é feminina e é da Mariana Lima. Ele só canta em 2 temas do novo disco, num total de 13.

Há uma arte em fazer musica moderna a soar a antiga?

A música foi gravada com material novo, e com as melhores condições de captação a que tivemos acesso. Nesse sentido, não somos nada revivalistas ou puristas. Não queremos gravar as nossas músicas como eram gravadas há setenta ou oitenta anos. A melhor qualidade de som disponível é a que nos interessa. E essa é mesmo a parte mais moderna na nossa música. Se falarmos na parte da composição, aí já existe uma preocupação grande em fazer uma melodia que perdure no tempo e não uma canção para vender e chegar aos tops. E nesse aspecto, não somos mesmo nada modernos, e somos muito mais parecidos com os nossos avós.

Qual o papel dos chapéus nos Soaked Lamb?

Têm um papel fundamental, não deixando fugir as ideias nem os cabelos. Mas são tão importantes quanto as cadeiras. Nós gostamos de detalhes e damos muita atenção a todos os pormenores. Na música, no grafismo dos discos e cartazes, nas roupas que usamos em palco. Os chapéus e as cadeiras fazem parte dessa preocupação estética, que começa na composição da música e não acaba mais.

São todos multi-instrumentistas, ao vivo trocam de instrumentos?

Os multi-instrumentistas são apenas dois. O Afonso e o Tiago. Entre os dois, tocam mais de 10 instrumentos (Guitarra, Banjo, Ukulele, Harmónica, Trompete, Saxofone, Clarinete, Lap Steel Guitar, Concertina, etc.). Mas não os trocam. Pelo menos ao vivo. Apesar de uma vez já terem trocado de chapéu.

Falem-me das colaborações e de como surgiram?

Os convidados aparecem em alguns temas do disco. São amigos que admiramos também como músicos, e que conseguimos enganar sem eles darem por isso. Enfiámos-lhes um chapéu. As músicas em que participam, ganharam uma dimensão que não tinham só com os 6 membros da banda. Os temas não seriam muito diferentes sem eles, é certo. Mas seriam com certeza mais pobres. São eles: Nuno Reis (Funk Off And Fly; Mercado Negro; Cool Hipnoise), Pedro Gonçalves e Tó Trips (Dead Combo), Jorge Fortunato (49 Special). O disco foi ainda misturado e masterizado por Branko Neskov.

Com o disco lançado, a digressão que o suporta será extensa? Que datas têm marcadas?

A digressão irá de norte a sul do País. Teve inicio no dia 31 de Março e já fizemos 4 concertos. Serão 17 concertos no total. Os eventos mais importantes serão: Coimbra (Salão Brasil) no dia 10; Porto (Armazém do Chá) no dia 16; Guimarães (C.C.Vila Flor) no dia 17; Loulé (Bafo de Baco) no dia 24; e para terminar, vamos tocar no Musicbox, em Lisboa, no dia 30 de Abril. Estamos a organizar uma pequena digressão pela Europa, mas será mais para o Verão.
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Boa Nova

Entrevista para o programa "Cá se fazem ca se tocam", de Pedro Oliveira (rádio Boa Nova).

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A Trompa

Uma entrevista "depois do surpreendente Homemade Blues". A ler aqui.
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Momento Crítico #22

"Glamour e elegancia no enquadramento de um belo disco.
Cheira a animação primaveril!" - *****

(Fenther)
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Momento Crítico #21

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Momento Crítico #20

"Blues , Swing, Jazz e até um cheirinho a valsa fazem do segundo disco dos portugueses The Soaked Lamb um dos álbuns do ano. o tema "Blue Voodoo" explica quase tudo." in Correio da Manhã de 3 de Abril de 2010.
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Momento Crítico #19

Hoje, no Jornal de Negócios, Manuel Falcão deu a sua opinião sobre o nosso novo disco:
"OUVIR
- É uma delícia ouvir um disco feito por bons músicos pelo prazer de tocar boa música - a descrição aplica-se que nem uma luva a Hats And Chairs, dos Soaked Lamb, uma banda portuguesa que revisita os sons do vaudeville norte-americano, com referências claras ao blues e a New Orleans. Destaque para Mariana Lima, a vocalista e saxofonista que contribui para que este seja um dos discos portugueses dos últimos tempos que mais gozo me deu."
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