Um disco de aço

Entrevista gravada para o Sinfonias de Aço:
“É, sem dúvida, um dos grandes discos para este ano: “Hats & Chairs” é o segundo álbum dos The Soaked Lamb e, a propósito deste trabalho, o “Sinfonias de Aço” conversou com o Afonso Cruz, um dos elementos da banda lisboeta. Curiosamente, esta entrevista foi efectuada via telefone, por VOIP, para o coração do Alentejo. O resultado desta conversa “transnacional” está pronto a ser escutado aqui no tasco, na secção entrevistas. Basta ligar as colunas e viajar, de Barcelos ao Alentejo, com passagem pela capital e pelas paisagens que “Hats & Chairs” desenha no seu percurso entre os blues e o jazz. De resto, liguem as colunas e deixem o PC fazer o que falta...”
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Uma entrevista em tom de sussurro


Whisper - Para quem não vos conhece, quem são os The Soaked Lamb? Contem-nos um pouco da vossa história.
The Soaked Lamb- A nossa história começa há 70 ou 80 anos atrás, ainda antes da II Guerra Mundial. Primeiro foi uma ideia, que depois levou à gravação de um disco todo feito em casa, acompanhado dos almoços de Domingo feitos de ensopado de borrego, vinho tinto e blues. Ficou pronto muito tempo depois - por volta de 2007. Só depois do álbum acabado é que surgiu a banda propriamente dita, que foi petiscar o nome a esses almoços. Muitos concertos depois, começou a tomar forma o segundo disco, aquele que editamos agora - “Hats & Chairs” - quase tão antigo como o outro, embora já tenha alguns toques de modernidade. Afinal, foi editado em 2010 e tem a maturidade de uns longos 3 anos.

W- A banda está fortemente relacionada com o blues e jazz, estilos musicais pouco populares em Portugal. Como lidam com isso?
TSL - A popularidade não quer nada connosco. E nós com ela. Não é algo de que estejamos à procura ou que nos consiga achar assim tão facilmente. Não compomos música para ir de encontro a gostos, a não ser o nosso próprio. De qualquer forma, fazemos as coisas tão devagar, mas tão devagar, que mesmo que quiséssemos acompanhar alguma moda, quando tivéssemos algo pronto para apresentar, essa moda já tinha passado. E para nós passou mesmo há muito tempo. Claro que não recusaremos qualquer tipo de protagonismo, se um dia nos bater à porta. Até esse dia chegar, esperaremos sentados, de chapéu, confortavelmente longe de resultados de vendas e tops da moda.

W - Como surgiram os vossos álbuns? É um processo demoroso?
TSL - É mesmo muito lento. Sentimos que demoram décadas a construir. 7 ou 8 décadas, para sermos mais precisos. Felizmente, temos muito tempo para ter o vagar necessário que eles nos exigem. Em ambos os discos, concentrámos as gravações aos Domingos. E vários passaram até estarmos satisfeitos, até chegarmos onde queríamos. No caso do primeiro álbum, como já dissemos, surgiu duma ideia de fazer um disco, antes mesmo de existir a banda. O segundo já apareceu como mandam as regras. É fruto de ensaios, concertos, e da nossa convivência enquanto banda. Foi inteiramente gravado em estúdio, apesar de também ser “homemade” no sentido em que foi todo feito por nós. É composto só de originais, ao contrário do primeiro, em que metade dos temas eram versões. E tem mais instrumentos. Muito mais instrumentos. As gravações tiveram a mesma lentidão que as anteriores, mas sem o ensopado de borrego para o almoço. Perdeu-se na qualidade das refeições, mas ganhou-se em qualidade de som.

W - "Homemade Blues" é o nome do vosso primeiro álbum de onde grande parte dos portugueses lembram o tema "Doomed to Heaven" do anúncio televisivo para a marca Guloso. Como surgiu esta oportunidade capaz de deixar a vossa música nos ouvidos de toda a gente?
TSL - Não sabemos se deixou a música nos ouvidos de toda a gente, mas deixou com certeza um ligeiro hálito a refogado. Neste caso concreto, o ladrão fez a oportunidade. O Miguel, baterista, trabalha num estúdio de produção áudio, e propôs, entre outras músicas de diversos autores, o nosso “Doomed to Heaven Rag” como banda sonora para esse filme em concreto. Esse foi o tema escolhido, para nossa sorte, da agência de publicidade e da marca de concentrado de tomate.

W - O vosso mais recente trabalho intitulado “Hats & Chairs” contou com uma série de convidados. Falem-nos um pouco sobre eles e como surgiram nesse projecto.
TSL - Os convidados aparecem em alguns temas do disco. São amigos que admiramos também como músicos, e que conseguimos enganar sem eles darem por isso. Enfiámos-lhes um chapéu. As músicas em que participam, ganharam uma dimensão que não tinham só com os 6 membros da banda. Os temas não seriam muito diferentes sem eles, é certo. Mas seriam com certeza mais pobres. São eles: Nuno Reis (Funk Off And Fly; Mercado Negro; Cool Hipnoise), Pedro Gonçalves e Tó Trips (Dead Combo), Jorge Fortunato (49 Special). O disco foi ainda misturado e masterizado por Branko Neskov.

W- O que são os “chapéus e as cadeiras” no vosso último trabalho?
TSL - Os chapéus são 6: Mariana Lima, voz e saxofone; Afonso Cruz, voz, guitarras, harmónicas, banjo e lap steel; Gito Lima, contrabaixo; Tiago Albuquerque, ukulele, trompete, clarinete, saxofone, concertina; Vasco Condessa, piano; Miguel Lima, bateria. As cadeiras são menos numerosas, mas não menos importantes. Fazem parte da nossa postura em palco, em que todos tocam sentados, e do nosso cuidado com os detalhes e com as vértebras do pianista. Costumamos dizer que fazemos música sentados, e para um público também sentado. O chapéu é opcional apenas para o público.

W - Tivemos a oportunidade de vos ver actuar em Coimbra e vimos que se depararam com condições algo precárias para uma actuação. É algo que vos acontece com frequência? Sentem-se obrigados a aceitar para darem a conhecer a vossa música?
TSL - Durante esta tour, tocámos em locais com som fantástico, como o C.C.Vila Flor, e com um som medíocre, como o que mencionam. Quando queremos promover o nosso trabalho (neste caso o novo CD), temos - e queremos - chegar ao máximo de cidades e pessoas que nos for possível. Isso implica tocar em locais em que as condições não são as melhores. Não nos sujeitamos a qualquer coisa, claro. Mas, infelizmente, é a realidade de muitas das salas do País, e não há muitas formas de contornar essas deficiências. Mas esta tour, até por ter sido bem maior do que o que já tínhamos feito, fez-nos subir um pouco a exigência. E dificilmente voltaremos a tocar em locais como esse de Coimbra.

W - Onde se vêm daqui a 5 anos? Grandes expectativas?
TSL - As expectativas têm o tamanho das vendas dos nossos discos e dos nossos espectáculos. Não são muito grandes, nem demasiado pequenas. Estão sentadas como nós. A nossa música, apesar de ser feita com a maior seriedade, veracidade e dedicação possíveis, não é a nossa profissão nem o nosso ganha-pão. É o nosso passatempo preferido, aquele em gastamos mais tempo. Se tivermos a oportunidade de crescer, vamos agarrá-la, desde que não seja preciso correr. Já não temos idade para isso. Daqui a 5 anos não fazemos ideia de onde estaremos, mas certamente continuaremos sentados e de chapéu.

W - Alguma mensagem que queiram aproveitar para deixar aos nossos leitores, aos vossos seguidores, ou às promotoras nacionais, etc?
TSL - Uma mensagem muito pouco subliminar: Ouçam o nosso CD. Vão ver os nosso concertos e levem chapéus. As cadeiras já lá deverão estar. E procurem-nos na net, nos canais sociais habituais: Facebook, Myspace, Blogs, Youtube. etc. e ainda em www.soakedlamb.com
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Hot & Spicy


in jornal Expresso de 08/05/2010: COMO (não) é imediatamente evidente, The Soaked Lamb é o tipo de tradução que, naturalmente, resultará se escrevermos “ensopado de borrego” num qualquer Babel Fish desta vida. O que será logo um indício de que os autores de “Hats & Chairs” têm uma elevado probabilidade de ser portugueses. São. Mais exactamente, segundo os próprios, “uma ditadura de seis pessoas” executantes de sax, guitarra, ukulele, banjo, lap steel, contrabaixo, piano, órgão, clarinete, trompete, concertina, bateria e percussões, de acordo com um programa estético convivial: “os blues como anfitrião e muitos convidados, como o swing, o ragtime, o jazz, e até uma valsa que ficou para o café.” Na verdade, estão para esta descendência da old-time music como os Oquestrada para as variedades lusas: se estes apuraram o paladar entre refogados e jindungo, os Soaked Lamb preferem a jambalaya, o chicken fried steak e a pecan pie. Metafórica e musicalmente, claro. Nos temperos, entram Tom Waits, Nina Simone, Screamin’ Jay Hawkins, Chavela Vargas e Colette Magny, entre muitos outros, que eles gostam de pitéus hot & spicy. Ainda bem que não é nouvelle cuisine. J.L.
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Quando nós falamos dos outros


Na última revista DIF (nº74), um de nós fala do disco duma outra banda que anda a ouvir e a gostar muito: A Jigsaw, Like The Wolf - Uncut.


“Like the Wolf” é o segundo álbum dos portugueses A Jigsaw, e esta edição “uncut”, é uma espécie de versão do realizador, revista e aumentada, e em formato “deluxe” do disco com o mesmo nome de 2009. Poderia ter sido o difícil segundo disco. Mas eles nem sabem como isso se escreve. O que souberam foi escrever 14 belas canções, que compõem este registo brilhante, obra maior que “Letters From The Boatman” de 2007 - já por si um disco magnífico (têm ainda um EP “From the Underskin” de 2004) - em que o todo é mais do que a soma das partes. Conceptual na forma, consistente e coerente do primeiro ao último momento. Indie folk e americana no seu melhor, onde se evocam almas perdidas numa qualquer estrada secundária, cheia de pó, sangue e whiskey, e histórias contadas na terceira pessoa. Conhecem o cancioneiro tradicional americano do índice ao prólogo, e têm o desplante de lhe acrescentar mais um capítulo revisto e actualizado, com composições de grande nível, autênticas e originais. É um álbum que não consigo tirar do leitor de CD’s. Siga com atenção esta alcateia."
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Uma revista onde somos "um autêntico must"


Na página 76 da Magazine Magnética, deste mês de Maio, recebemos uma crítica tão elogiosa que parece que foi feita por encomenda. Juramos, sentados e a pés juntos, que desconhecemos a jornalista (Sofia Freire) que escreveu sobre nós e sobre o novo CD "Hats & Chairs".
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